sábado, 22 de janeiro de 2011

11 até 19 de janeiro

11 até 19 de janeiro - Outra vez vou ter de postar atrasado. Estamos seguindo por lugares que não contam com luz elétrica para carregar o computador, e também esse trecho da viagem acabou sendo bem cansativo o que desanima ficar teclando.

Levantamos no dia 11 por volta de 08:00 da manhã, o Francês, já estava partindo, com todas as coisas amaradas na bike, nós levantamos acampamento e arrumamos tudo nas motos para partir, faltam um pouco mais de 200 quilômetros de Ripio ruim para pegarmos o asfalto novamente. Deixamos Lá Siberia para trás por volta de 9 da manhã, debaixo de um vento forte e tempo nublado. Quando depois de rodarmos quase 1 hora, encontramos novamente o veinho Frances e sua bicicleta. O danado já havia percorrido uns 40 quilômetros, Nico e eu ficamos surpresos com a disposição do cara.

Já estávamos para acabar o penúltimo trecho de Rípio, quando comecei a ouvir um barulho alto de algo metálico batendo forte contra a parte inferior da moto, estava a uns 80 por hora mais ou menos e numa descida cheia de pedregulhos, no apavoro de tentar parar mais rápido brequei e perdi o equilíbrio indo pro chão. Foi rápido e feio, acabei com a perna direita presa debaixo da moto e sentindo dor forte no tornozelo e no joelho. Fiquei ali preso alguns minutos que pareceram horas. Bart e Nicola seguiam bem a minha frente, a moto deles eram trails e bem mais leve que a V-Strom, por isso seguiam mais rápido agora. Eles demoraram para perceber que eu tinha ficado para trás. Os primeiros que param foi um pessoal de um micro ônibus que vinha no sentido oposto. Foi uma raridade e muita sorte minha, pois as vezes passávamos horas sem cruzar com ninguém na Ruta, pouco depois chegaram os dois parceiros, eles levantaram a moto e assim que liberei o pé senti um alivio pois a posição que cai estava forçando uma torção em toda a perna direita que me imobilizou. Liberado, me arrastei para a beira da estrada vendo estrelinhas de dor. Deixei o povo tentando colocar a moto em pé, o que não é fácil, pois ela carregada beira os 300 kg. Primeiro me certifiquei de que não tinha quebrado nada, e então tentei ficar de pé, a dor no joelho e tornozelo direito estava forte, assim como na mão direita também. Só então passado uma meia hora, tomei coragem e fui ver o estrago na moto, por sorte não foi muita coisa graças ao protetor lateral do motor que mais uma vez salvou o dia. Alguns arranhões feios na frente e no protetor de mão, o pisca quebrado e o guidão e o retrovisor tortos foi o que notei de cara. O que estava batendo debaixo da moto era o cavalete central, que estava muito baixo e pegava constantemente nas pedras maiores da estrada. Isso ocorreu tantas vezes que a mola que prendia o cavalete voou longe e ele ficou pendurado batendo e fazendo a barulheira toda.

Com a ajuda do Bart coloquei o guidão e o retrovisor mais ou menos no lugar para poder tocar viagem, nesse meio tempo chegou um senhor com uma moto toda estropiada também devido a um tombo que levou no Rípio dias antes. O nome da figura é Ricardo Wrontiac, Argentino ele é professor aposentado, tem 68 anos e anda numa Java, uma moto com motor carburado, de 350 cc com um tanque gigante, 27 litros, com peças Chinesas e Indianas montada na Argentina. Ele havia caído 4 dias antes más seu tombo parece ter sido bem mais feio que o meu, tão feio que Ricardo esteve internado num hospital em observação em El Calafate por um par de dias. Pelo que ele contou caiu também devido aos pedregulhos gigantes desse trecho da Ruta 40. Realmente foi um erro pegar essa estrada com a V-Strom, especialmente sobrecarregado como eu estava!

Depois de tomar um gole de água, tomar um bom fôlego do susto e amarrar o tripé pendurado, decidi tentar seguir viagem. Além disso sobravam poucas alternativas, ficar sentado na beira da Ruta quase deserta reclamando da vida não ia resolver nada. O Ricardo veio com a gente então, e seguimos mais uns 20 km e o Rípio finalmente acabou, e logo em seguida tinha também um pequeno povoado com um posto de gasolina e um bar, paramos ali para abastecer e avaliar as possibilidades. Logo mais a diante o Bart e o Nicolas iam separar-se de mim, pois seguiriam para o Chile para a Carretera Austral e eu ia para Bariloche uns 900 km a diante. Eles ofereceram mudar os planos e seguir comigo até o Rípio acabar, eu fiquei agradecido e bastante tentado a aceitar a oferta, mais achei chato atrapalhar a Trip dos caras, de qualquer forma insistiram muito e acompanharam até a próxima cidade, Perito Moreno que ficava 100 km adiante sendo de desses 60 tambem eram de Rípio, e 40 de asfalto. Confesso que fiquei muito grato e aliviado pela companhia deles, viajar sozinho até o fim do dia ainda mais numa estrada ruim não é uma coisa que me deixava muito tranqüilo.

Chegamos em Perito Moreno umas 5 da tarde, fomos então para uma farmácia comprar um remédio para as minhas dores. Consegui também achar um locutório e dar uma ligada em casa, falei com meu pai más não contei do tombo. Conseguimos achar um camping até bem legal, lá montamos as barracas e passamos a noite ali, o remédio que me deram não fez muito efeito pois a dor durante a noite foi muito forte e tornou o sono bem ruim.

Dia 12 já amanheci com bastante dor, más resolvi tocar viagem, combinei com Nicolas e Bart que nos separaríamos ali e eu seguiria com o Ricardo, pelos últimos 50 km de Rípio que restavam até finalmente pegar novamente o asfalto direto até Bariloche. Despedi então dos dois parceiros de vários dias de Rutas com dor no coração mais uma vez, é chato conhecer, fazer amizade e depois dizer adeus, muito provavelmente para sempre. Apesar de todos os percalços os meninos eram bem legais!

Passei de novo na farmácia e comprei um nebuprofem mais forte de 800 mg, que então aliviou um pouco a dor, e toquei viagem com o Ricardo. O Rípio por incrível que pareça, conseguiu ficar pior... rss Nesse ultimo trecho, amarguei quase 3 horas para fazer os últimos 70 Km de terra, muita pedra solta, muito vento e um sobe e desce cheio de curvas sem que não acabava mais. Acabamos chegando em outro povoadinho, e ali o Ricardo abriu o bico, decidiu ficar por ali, pois também estava sentindo dores e estava exausto, eu já tava muito atrasado e não podia me dar ao luxo de descansar muito, então abasteci novamente a moto e segui viagem. O asfalto não estava muito legal também e a estrada estava deserta. Fui tocando bem na manha para não ter problemas. Pegando a Ruta por uma hora mais ou menos, encontrei uma turma de motociclistas parados na beira da estrada. Todos com motos BMWs novinhas, eram 9 caras com duas caminhonetes de apoio. Parei para conversar com eles um pouco, e descobri que as motos são todas de um senhor chileno que estava no grupo de guia, ele as alugava para viagens pela America do Sul inteira, normalmente para americanos e Europeus como era o caso dessa vez. A turma era bem animada, cumprimentei todos e conversando com eles e me disseram que estavam esperando outro grupo que estava para trás um pouco atrasado. O senhor chileno chefe da turma, me falou que o próximo posto de gasolina estava a 100 km, ele errou feio pois na verdade estava à 170. Tive de usar a gasolina que trazia em 2 garrafas pet de 2 litros e mesmo assim cheguei com o tanque quase vazio. Depois desse papo toquei então e depois de um tempo, umas duas horas, cruzei com as outras 6 BMWs desgarradas do grupo, seguindo em sentido contrario. Quando se passaram os 100 km do ponto que encontrei o primeiro grupo comecei a ficar bem preocupado, pois minha gasolina ficava baixa devido ao aumento de consumo pelo vento de frente que eu estava pegando. Quando começou a piscar a luz da reserva entrei em Governador Costa, não era uma cidade muito pequena más la também não se aceitavam pagamento com cartão de crédito nos postos de gasolina, também não havia dinheiro nas maquinas dos bancos, aqui chamadas “Cacheros”. O dinheiro em espécie também estava em falta devido ao grande fluxo de turistas que a Argentina estava recebendo. Eles haviam até mandado imprimir notas de pesos no Brasil por conta disso!

Abasteci, tomei mais um comprimido para dor, descansei mais um pouco e segui, o tempo foi mudando rápido então, e esfriando bastante, depois de mais uns 200 km, cheguei em Esquel debaixo de um toró gelado. A cidade é muito bonita e senti não poder passar mais um dia lá para passear. Decidi então pegar um Hostel e dar um descanso da barraca, eu precisava dormir numa cama, em um lugar seco e com banheiro limpo, isso ajudou a levantar o meu moral e me restabelecer melhor.

No dia 13 o tempo não melhorou, más resolvi seguir viagem mesmo assim para tentar chegar a El Bolson, onde me disseram que haviam coisas muito legais para conhecer. Depois de uns 200km de chuva e bastante frio cheguei lá. El Bolson, é cidade turística e estava tudo lotado. Fui ao centro de informação de turistas e lá já me desanimara de achar acomodação. Mesmo assim resolvi procurar, rodando por todos os hosteis e hotéis que consegui ver, descobri que não tinha mais nenhuma cama ou quarto vagos baratos. Haviam sim alguns poucos os hotéis com disponibilidade más eram muito caros e eu ainda não estava preparado para montar a barraca novamente, sendo assim, mais uma vez resolvi tocar o bonde e tentar então chegar até Bariloche. Não teve jeito, não consegui, andei uns 100 km e tive de parar num lugar que era um restaurante/pensão de beira de estrada, devido a chuva forte e ao frio, eu já estava congelando de frio e sentindo que ia ficar gripado. Todo molhado apesar de estar usando a capa de chuva resolvi ariscar e ficar por ali. Foi a decisão mais correta dessa viagem até o momento! Foi uma surpresa muito boa parar ali, não havia muito movimento no lugar e o pernoite em um quarto só para mim saiu 80 pesos, mais 30 pesos por jantar que tinha cerveja gelada, bife, pão de alho, batata e torta frita. Eu tava precisando muito dessa caloria toda. Alem de tudo isso a moça que atendia por lá, compadecida do meu estado precário se ofereceu para secar a minha roupa, foi uma maravilha. Minha calça de viagem não secava direito há muito tempo devido ou ao suor ou a chuva que eu tomava diariamente (imagina o cheiro que não tava também....).

Bom no dia seguinte o clima não mudou nada, então aproveitei para dormir até mais tarde e descansar o esqueleto. Faltava pouco para chegar a Bariloche e decidi já que ia ficar lá alguns dias para conhecer e passear. Sai por volta de 2 da tarde, quando a chuva deu uma trégua, só que andei um pouco e começou a cair água novamente. Cheguei em Bariloche e fui procurar o escritório de turismo para saber onde havia hosteis com lugares disponíveis. Me indicaram um, e fui para lá, dei sorte mais uma vez, pois tinha apenas uma cama sobrando, o lugar é muito bom limpo e organizado, chama-se "Hostel San Antonio" e é tocado por um casal novinho, o Tika e a Marcela, os dois Argentinos e muito gente boa. Infelizmente só não dei sorte com os companheiros de quarto, eram 5 caras israelenses sujos e mal educados. Os pilantras faziam a maior zona a noite no quarto e alem disso causaram confusão com outras pessoas do Hostel por fumar roubar comida da geladeira. Não gosto de generalizar, más percebi que os israelenses, quando viajam em grupos sempre causam confusão. O mesmo se passou em Ushuaia, em El Calafate, El Chalten e aqui agora. Infelizmente tive até de ir comprar uns cadeados para trancar minhas coisas, e isso não se fez necessário até agora na viagem depois de quase 30 dias. Sendo assim é difícil não se criar uma má impressão deles.

Resolvi ficar em Bariloche até dia 19. Infelizmente em função da chuva, do frio, do desgaste físico e principalmente da falta de grana que andava curta, não fiz muita coisa e deixei de visitar muita coisa bacana. Uma pena pois aqui as opções são muitas mesmo. O Tika, dono do Hostel, é guia turistico e também anda de moto. Ele deu altas dicas de lugares para que eu conhece-se!

Basicamente fui a lugares onde não se precisava pagar para entra, más nem por isso deixei de conhecer paisagens muito interessantes. A liberdade de estar de moto é uma coisa muito boa, deixei a bagagem no Hostel e por dois dias circulei pelas montanhas, parques, estações de esqui de Bariloche e pela cidade, que em si só já é também uma linda atração mesmo no verão! A cabei encontrando na cidade onde fui comprar umas camisetas e lembracinhas, um grupo de motociclista brasileiros na rua. Todos eles, uns 8 no total, com camisetas e roupas de moto e falando português alto, o que tornou fácil identificá-los. Fui conversar com eles, estavam seguindo no sentido contrário, seguiam sul e eu ia para o norte. Fomos a um café e tomei umas cervejas com alguns deles e então fui para o Hostel, descansar e me preparar para atravessar para o Chile.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

03 à 10 de Janeiro de 2011

A correria esta grande e não estou encontrando jeito de postar mais. Por isso hoje dia 10 de Janeiro, vou fazer um resumo da última semana.

No dia 3 de janeiro nos avisaram que precisaríamos desocupar os quartos no Hostel, pois estes já estavam reservados, por isso mudamos de Hostel e decidimos que dia 4 sairíamos com destino a Provenir, e depois para Punta Arenas no Chile. Na parte da tarde do dia 3 fomos eu, Nicolas, Bart e uma amiga do Nicolas a Samantha, dar uma volta por uns lugares da cidade que não conhecíamos ainda. A Samantha conhece bem Ushuaia pois trabalha como aeromoça na Austral e tem uma tia morando na cidade, então esta sempre por lá e conhecia tudo, foi uma excelente guia turística para nosotros.

Depois de darmos uma revisada geral nas motos inclusive comprando câmaras de ar novas para o Bart, empacotamos tudo e partimos dia 4 de janeiro outra vez meio atrasados. Já saímos da cidade com um vento de lascar, e pouco antes da fronteira com o Chile o Nico pichou la cubierta (furou o pneu). Isso já tomou mais umas duas horas, até conseguirmos providenciar o concerto.

Na seqüência chegamos na fronteira e depois da burocracia costumeira, ingressamos na estrada de Rípio no lado Chileno que nos levaria a Porvenir. Já eram mais de 5 da tarde e estávamos bem cansados, mesmo assim estávamos contando em chegar a Porvenir para pegar a Balsa que partiria as 8 da noite, o que não contávamos era com o Bart furando o pneu também, só que agora no meio da estrada de Rípio, no meio do nada e sem ferramentas para providencia o concerto do pneu, que era de câmara. Como única opção emprestei a ele um spray reparador de pneu e também meu compressor, acabamos enchendo o pneu. Deu certo apesar de demorar bastante, más logo em seguida o cabeçudo do belga, saiu que nem um louco correndo na estrada de Rípio esburacada, e desapareceu na nossa frente, depois de percorrer mais uns 50 km demos com ele encostado na beira da Ruta. Tinha furado o pneu novamente, como já eram mais de 10 da noite e já havíamos perdido a balsa, resolvemos armar as barracas na beira da estrada e dormir ali. Para mim nas mesmas condições de antes, sem saco de dormir e dormindo de roupa! De manha foram os dois para a Porvenir na moto do Nicolas, levando o pneu para consertar numa borracharia, apesar de estarmos bem perto da cidade, até concertarem o pneu e voltar para montar a roda, já eram mais de 11 da manhã e então perdemos de novo a Balsa que sairia as 8 da manha para Punta Arenas, a próxima sairia só as 8 da noite. Já estava começando a ficar grilado com os parceiros pelo atraso!

Sem ter outra opção fomos para o cais esperar a Barca. Eram por volta de 15:00 horas. Lá encontramos os dois Belgas que eu havia encontrado em Comodoro Rivadavia, o Rudy e a Sofia, que rodavam em BMWs 650 e 800, encontramos tambem um Catalão, o Mikael, que rodava numa Africa Twin igualzinha a do Nicolas inclusive com as cores e do mesmo ano. Os três trouxeram as motos de navio da Europa e os três passaram maus bocados para liberá-las na aduna de Buenos Aires.

Depois de passarmos boa parte do dia batendo papo, finalmente embarcamos na Balsa e zarpamos para Punta Arenas, e lá chegando, fomos os 6 para o mesmo Hostel, que para nossa surpresa estava lotado, e a opção foi armar a barraca novamente no pátio, e depois de toda a correria de armar barraca procurar o que comer e tomar banho fomos dormir pregados por volta de 1 da manhã.

No dia seguinte, fomos a zona franca de Punta Arenas e compramos umas coisas. Eu comprei uma barraca e um tapete térmico e um saco de dormir pois estava cansado de usar a barraca do Nicolas e dormir no chão, era bem desconfortável. Eu sabia que em breve iríamos nos separar e eu precisaria de uma de qualquer maneira. Em seguida fomos tambem comprar um pneu e uma câmara nova para o Bart, que apesar disso resolveu continuar usando o pneu e a câmara velha e gasta que havia reparado em Porvenir. Isso não cheirava a boa coisa...

Dia 6 saímos com destinos a Puerto Natales e para surpresa deles, más não minha, o Bart furou o pneu de novo, e de novo no meio do nada. Por sorte eles haviam comprado ferramentas para poder tirar o pneu e trocar a câmera na Zona Franca. Quando eu vi o estado da câmara de ar, eu não acreditei, tava toda remendada, e mesmo assim o cabeça de bagre resolveu trocar só a câmara e continuar usando o pneu velho. Não precisa nem dizer né... Más por conta disso o pneu furou de novo uns 200 km depois e com isso chegamos a Puerto Natales por volta das 8 da noite onde dormimos num camping. Eu já com a barraca nova e com o saco de dormir descansei um pouco melhor pelo menos.

Dia 7, amanheceu bem nublado, e por conta disso e pelo atraso geral da viagem, acabei não indo visitar o Parque Nacional de Torres del Paine no Chile, os dois também não colaboraram muito novamente, o Bart já conhecia o lugar e o Nico não mostrou interesse em passar um dia a mais em Puerto Natales para fazer a visita. Foi bastante frustrante, pois esse é um lugar lindo pelo que ouvi dizer, más as coisas nem sempre correm como programado mesmo. Logo que montamos as motos para sair desabou um temporal, e ficamos presos em Natales até quase meio dia, e só ai levantamos ancora de novo, agora com destino a fronteira de Chile e Argentina e a cidade de El Calafate.

Para variar o script furou novamente o pneu do Bart, como já estávamos acostumados e treinados, e o ocorrido foi perto de um posto de gasolina no meio da Ruta, demoramos só uma hora e meia para realizar o concerto, e então muito cansados chegamos a El Calafate quase 9 da noite ainda com luz do sol, aqui nessa época do ano, escurece por volta de 10 da noite, procuramos e achamos um Hostel baratinho para podermos descansar melhor, depois fomos jantar. Tomamos algumas cervejas e comemos uma pizzazinha bem meia boca e voltamos para o Hostel. Já era por volta de 2 da manhã, e eu cai na cama do jeito que tava, não consegui tomar nem banho, só acordei por volta das 9 da manha do dia seguinte.

No dia 8, ainda cansado e bastante estressado, acordamos os três, tomamos um café num posto de gasolina onde abastecemos para ir ao Parque dos Glaciares. O lugar é muito lindo, e apesar de estar meio longe da cidade, uns 70 km por ai, do vento forte e da Ruta ser muito sinuosa, valeu demais a visita. O visual de estrada, e do parque são maravilhosos, eu nunca tinha visto nada igual. Voltamos para o Hostel por já volta de 4 da tarde e pegamos nossas coisas para então para seguir até El Chaltén. Mais uma vez o visual do deserto da Patagônia me impressionou bastante. Desta vez como o pneu do Belga não furou, chegamos a El Chaltén por volta das 8 da noite, não havia lugar em nenhum Hostel e a única opção foi o pior camping da Argentina, o "El Relincho", caro e sem estrutura nenhuma. Chegamos com lá com muito vento e isso só iria piorar nos próximos 2 dias.

Dia 9 de janeiro acordei muito cansado umas 8 da manhã, essa de viajar longos períodos e dormir na barraca não esta sendo fácil, más mesmo assim foi muito bom tê-la comprado pois sem ela não teria nem onde dormir nessa cidade perdida no meio do nada. Os três estavam com a bateria meio baixa, más mesmo assim e apesar do tempo nublado resolvemos sair para fazer um trekking até o famoso monte Fitz Roy, onde viemos a saber, um brasileiro chamado Bernardo havia morrido 2 dias antes tentando escalar a montanha. Nosso programa era só fazer uma caminhada de 4 horas no meio da mata até o pé da montanha. Depois de 2 horas andando no sobe e desce dos morros o meu joelho começou a doer muito, ai eu desisti, resolvi voltar e Nicolas e Bart seguiram.

Quando eu estava voltando as 2 horas que gastei na ida viraram 3 na volta, pouco antes de chegar de volta na cidade encontrei um vira latas na trilha que começou a me seguir, encontramos um monte de gente no caminho e o povo pensava que o cachorro era meu de tanto que ele ficava perto de mim. A amizade entretanto durou poucas horas, pois assim que estávamos a um quilometro da cidade começou um vendaval que tornava andar uma missão quase impossível. Quando cheguei no descampado, não acreditei no que eu vi. O cachorro, que não era dos pequenos, não conseguia mais me seguir por causa da ventania, foi ai que acabou a parceria... rsss

Cheguei de volta no Hostel por volta das 3 da tarde, e da pra diante o tempo só fez piorar, e eu me enfiei na barraca e dormi até as 19:00 horas, quando chegaram os dois parceiros. Segundo eles, conseguiram chegar ao pé da montanha só que ficaram tão cansados que não tiraram fotos. Honestamente eu não acreditei na historia.

Logo que escureceu, depois das 10 da noite encontramos, 4 garotos de São Paulo que nos convidaram para fazer um churrasco improvisadissimo. Eu e o Bart havíamos comprado umas cervejas e com isso podemos participar da festa. Os garotos faziam engenharia em São Paulo, e tinha a mesma idade na media dos 22. Ficamos com eles então até meia noite e meia e fomos dormir.

O dia 10 amanheceu cinza e ventando bastante forte o que não parou mais. Dessa vez foi a bateria da moto do Bart que arriou, por isso ficamos presos em El Chaltén até 4 da tarde. Foi uma prova de paciência para mim. Estava quase largando os dois e desistindo de encarar a Ruta 40 e voltando para El Calafate, más depois de tanto atraso o único jeito de ganhar tempo seria enfrentando a pedreira que eu sabia que seria a famigerada Ruta 40. Resolvi seguir com eles. Viajamos em asfalto uns 90 km depois de El Chaltén e ai então começou a pedreira. O Ripio a partir de Tres Lagos até Rio Mayo é muitissimo pior ao que encaramos indo e voltando de Ushuaia. Foram uns 500 km sendo que por volta de 400 de Ripio bem ruim. Dado a essas condições, não pudemos terminar a viagem no mesmo dia como programado, e paramos numa Estância a "La Sibéria", o nome já reflete o isolamento do lugar. Chegando lá, o canalha do dono dessa parada de ônibus no meio do deserto, nos cobrou 5 pesos por litro de gasolina, que normalmente custa 2,20 e 90 pesos para deixar-nos montar a barraca no fundo do quintal e por um prato de macarrão com carne. As condições do lugar eram bem ruins, o banheiro era uma imundice também. Bem a parte disso o interessante do dia ficou por conta de um senhor Frances que encontramos lá. Ele viajava sozinho e de bicicleta, isso me fez ter vergonha de estar tão mal humorado e me sentindo tão acabado, más o Jean Marcus, o senhor Frances é um aventureiro profissional, que já viajou o mundo todo de moto, carro e bicicleta, incluindo quase todos os países da Africa e da América do Sul. Ficamos entretidos os três com as historia dele até quase meia noite, e depois disso fomos dormir.

02 de janeiro de 2011

O combinado não deu muito certo...
Acordamos tarde pois os três ainda estavam cansados da viagem. Levantamos, fomos a um posto abastecer as motos e nós mesmos, e ai então seguimos para o parque. O dia estava muito bom, o sol havia saído com força, sem nuvens e bem quente até. A estrada para o parque não era boa, tinha muita pedra, poeira e movimento de carros e vans, sempre andando muito mais rápido do que deveriam. Fomos com muito cuidado, más isso não foi suficiente para evitar que eu e o Nicolas fossemos derrubados. Eu por uma van que nos ultrapassou para logo em seguia nos fechar numa curva, e o Nico logo em depois numa outra curva só que no caso dele foi mais forte o tombo. Por muita sorte quase não houve danos nas motos e ninguém se feriu tambem.
Depois de camelar pelo parque quase todo atrás do Bart (o cara parece um camelo), e de nos perdermos nas trilhas, voltamos quebrados para o Hostel más cheios de fotos daquele lugar lindo. Fomos então fazer uma janta com uma turma de franceses, israelenses e um carinha das ilhas Mauritios! Enchemos a lata, demos muita risada e fomos descansar para o dia seguinte.

01 de Janeiro de 2011

Primeiro dia de 2011
Acordei meio tarde e ainda pregado de cansaço pelo dia de ontem, pelo menos o tempo já estava melhor e resolvemos ir ao Parque Nacional para visitar, o ultimo lugar que se pode alcançar à Sul por via terrestre no continente Americano, o famoso "Parque del fin del Mundo". Chegando próximo do parque uma guia turístico, que dava orientações nos recomendou a vir no dia seguinte pois havia muito movimento naquele horário e perderia-mos muito tempo em filas até conseguirmos entrar.
Então resolvemos voltar pra cidade e tentar no dia seguinte. Bart foi para o Hostel, o Nico foi encontrar uns amigos argentinos e eu fui dar uma volta para o lado do porto e no trecho pouco antes da entrada de Ushuaia que tinha umas paisagens muito legais, e que no dia anterior não havíamos aproveitado, por causa da chuva e frio, do adiantado da hora e também devido ao cansaço geral.
Andei por umas 4 horas e tirei várias fotos, e já de volta ao Hostel fui até o locutório para ligar para casa, e lá conheci umas meninas de Israel que estavam chegando a cidade, muito lindinha, elas procuravam lugar para ficar então passei o endereço do Hostel para elas. Infelizmente parece que encontraram outro lugar antes...
Voltando a cidade, não tinha muita coisa para fazer pois o comércio continuava fechado, ai então voltei para o Hostel e fiquei de bobeira por lá dando uma atualizada nos emails e conversando com o pessoal.
Combinamos os três de pular bem cedo para irmos ao parque no dia seguinte, e podermos aproveitar mais o dia.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

31 de Dezembro de 2010

Acordei bagaçado, terminados de amarrar tudo na moto e tocamos a viagem, fomos até a fronteira do Chile e fizemos a burocracia da aduana para poder continuar a viagem, paramos num pueblozinho (vilarejo), logo depois da fronteira abastecemos a moto e fomos comer no único restaurante aberto.

A comida não caiu bem para nenhum dos três, ficamos eu e o Bart meio mal do estomago, más o Nicola ficou acabadão, mesmo assim tivemos de encarar o Rípio. A estrada já estava melhor do que eu esperava e tocamos por volta de 60 a 70 por hora apesar do vento lateral que estava forte pra caramba.

Chegamos a outra fronteira agora para passar do Chile para a Argentina. O tramite foi mais rápido, porem agora ficamos os três no banheiro eles vomitando e eu com uma diarréia terrível. Depois disso seguimos a viagem e mais ou menos uma hora depois disso começou a melhorar o visual que de desértico, mudou totalmente, começamos a passar por regiões mais verdes e com montanhas e rios. Também já se podia ver o gelo, e apesar de estarmos acabados, descemos algumas vezes da moto para admirar a paisagem, e que paisagem viu! Chegamos a Ushuaia, por volta das 22 horas e ainda era dia claro, já com o frio forte e uma chuva fina. Encostamos no Hostel que havíamos reservado. Sorte Nicola ter feito a reserva, o lugar estava lotado e haviam entre o pessoal, gente de várias nacionalidades, e também alguns brasileiros, e todos eles já haviam tomado umas e outras, já estavam no clima de festa de fim de ano.

Descarregamos as motos e fomos tomar um banho e depois nos juntamos a eles para comer um pouco e tomar umas cervejas para relaxar e depois fomos dormir.

Fiquei meio triste porque não consegui ligar para o meu pai e dar o feliz ano novo, estava tudo fechado, e não houve como fazê-lo.

30 de Dezembro de 2010

Levantamos por volta de umas 9 da manha e o Nicola se ofereceu para ir fazer a reserva para mim por telefone no Backpacker de Ushuaia, enquanto isso eu fique arrumando a bagagem e acertando o pagamento.

Pegamos a Ruta por volta de 11 da manha, paramos no posto que estava na saída da cidade e enquanto estávamos abastecendo chegou um cara com uma chopper da Yamaha, era o Armando Carvallo, um argentino de Rio Gallegos, que muito “profeticamente” nos aconselhou a tomar cuidado com os Guanacos, uns bichos parecidos com a Lhamas, bem grandes, eles tem por volta de uns 200 a 250 quilos e são compridos e ágeis como veados.

Saímos então do posto, e tocamos rumo Sul, depois de uma meia hora mais ou menos o Armando nos ultrapassou andando forte, nos estávamos a 120, ele passou dando tchau e eu lembro de pensar que ele sendo da região conhecia bem a Ruta para poder acelerar...

Bem passados uns 30 minutos, eu seguia na frente e quando terminou uma seqüência de curvas descendentes, vejo uns ônibus e uns caminhões encostados e no meio deles a moto do Armando, ou o que sobrou dela, e ele estirado no chão, paramos bem a tempo, pois o povo que o estava socorrendo, estava dando-lhe água e o colocaram deitado com a jaqueta servindo de travesseiro.

Pedi que não dessem mais água e que não o movimentassem mais, um motorista de ônibus que estava ajudando não gostou muito de eu estar interferindo, mais depois de explicar a situação ele concordou. Combinamos então que o Nicolas que é Argentino seguiria só para Rio Gallegos, que estava a pouco menos de 100 KM, e entrasse em contato com a família de Armando, e tambem providenciasse uma Ambulância. Em quanto isso ficamos eu e o Bart com o Armando.

Ele estava em choque e gradativamente foi recobrando a consciência, conversando com ele já fomos vendo que ele tinha o pulso e algumas costelas quebradas e escoriações pelo rosto. Ele estava usando um capacete escamoteavel que se abriu com o impacto com o solo e ele estava com um hematoma vermelho no queixo e sangrava pelo nariz.

Ficamos nessa agonia por uma hora ai chegou uma caminhonete da Petrobras com dois Argentinos gente boa que passaram um radio para base dele que era próxima, uns 40 km, de onde estávamos, e pediram que viesse uma ambulância e um paramédico para socorrer-nos.

Foi a salvação, pois como descobrimos depois o Nicola não tinha conseguido acionar a ambulância da estrada pois os telefones não funcionavam, e então ficou tentando sem sucesso, de outros lugares sem chegar a  Rio Gallegos. O paramédico da Petrobras chegou primeiro, trouxe com ele uma maca e examinou o Armando, e constatou que aparentemente não sofrera nenhum dano cerebral. A ambulância da Petrobrás chegou uma hora mais tarde, embarcamos o Armando e colocamos a moto em cima de uma caminhonete e seguimos para Rio Gallegos. O pessoal da Petrobras tambem acionou uma ambulância de Rio Gallegos que nos encontrou na estrada, e de lá finalmente fomos para o Hospital. A coisa toda demorou umas 5 horas e ainda sim considero que o Armando deu muita sorte pois a estrada era muito herma, e as condições como os telefones de SOS fora de serviço não favoreciam o socorro.

Deixamos o Armando no Hospital e nos certificamos que a família estava avisada e seguimos viagem pois ainda tínhamos de concertar a moto do Bart e chegar a tempo de pegar a Balsa para atravessar para ilha. Foi corrido e acabamos chegando no porto da balsa meia hora antes da ultima balsa, por volta das 11 e meia da noite.

A travessia durou uma meia hora e por conta da escuridão não deu para apreciar a paisagem, tambem começava a fazer muito frio e o vento estava forte. Depois da travessia, o Nicolas e o Bart me falaram que iriam acampar, eu fiquei preocupado pois não tinha barraca e nada de Camping comigo, o Nicola me ofereceu a barraca dele para passar a noite, eu topei mesmo porque não tinha outra opção, só que tive de passar a noite de roupa e sem saco de dormir. Com o frio e ventania, foi uma noite difícil. O dia de fortes emoções então terminou assim.

29 de Dezembro de 2010

Não pude sair muito cedo, pois tive de ir correr atrás de combustível por conta do racionamento. Logo na saída de Caleta Olivia encontrei dois caras de moto. Uma Kawazaki KLR 650 e outro numa Africa Twin. Fomos tocando junto então e paramos todos no primeiro posto que achamos.
Fui conversar com os caras, e os dois eram muito gente boa. O da KLR era Belga Bart e o da Africa Twin Argentino o Nicola, conversamos um pouco e como eles seguiam sul para Ushuaia me convidaram para tocar com eles, topei na hora.
Foi legal alem dos caras serem muito gente boa, viajar com companhia nessa Ruta é importante porque as distancias sem nada são muito grandes e há muitos animais soltos na estrada, principalmente Guanacos e umas Emas.
Eu mesmo quase bati num Guanaco, embora estivesse indo devagar, não pude fazer nada quando o bicho, sem dar sinal pulou na frente da moto. Passei raspando por ele, e fiquei uma meia hora para recuperar do susto.
Acompanhá-los foi bom também porque podemos dividir o alojamento em Comandante Luis Piedra Buena, o que sempre ‘e mais barato para 3 do que para 1. Chegando na cidade fomos “abordados” por um cara numa Fazer 1000 o nome dele era Mario, ele nos convidou para uma Parilla e aceitamos na hora. Estava muito bom e o Mario deu-nos umas indicações sobre onde encontrar uma oficina em Rio Galegos, o Bart precisava trocar a relação que estava mal.
Alugamos uma casinha muito legal, a casa del Descanso em Comandante Luis Piedra Buena, outro lugar bom para se conhecer se estiver passando de moto pela Ruta 3, o lugar é novo, limpo, barato e foi a melhor cama aqui na argentina ate agora.