sábado, 22 de janeiro de 2011

11 até 19 de janeiro

11 até 19 de janeiro - Outra vez vou ter de postar atrasado. Estamos seguindo por lugares que não contam com luz elétrica para carregar o computador, e também esse trecho da viagem acabou sendo bem cansativo o que desanima ficar teclando.

Levantamos no dia 11 por volta de 08:00 da manhã, o Francês, já estava partindo, com todas as coisas amaradas na bike, nós levantamos acampamento e arrumamos tudo nas motos para partir, faltam um pouco mais de 200 quilômetros de Ripio ruim para pegarmos o asfalto novamente. Deixamos Lá Siberia para trás por volta de 9 da manhã, debaixo de um vento forte e tempo nublado. Quando depois de rodarmos quase 1 hora, encontramos novamente o veinho Frances e sua bicicleta. O danado já havia percorrido uns 40 quilômetros, Nico e eu ficamos surpresos com a disposição do cara.

Já estávamos para acabar o penúltimo trecho de Rípio, quando comecei a ouvir um barulho alto de algo metálico batendo forte contra a parte inferior da moto, estava a uns 80 por hora mais ou menos e numa descida cheia de pedregulhos, no apavoro de tentar parar mais rápido brequei e perdi o equilíbrio indo pro chão. Foi rápido e feio, acabei com a perna direita presa debaixo da moto e sentindo dor forte no tornozelo e no joelho. Fiquei ali preso alguns minutos que pareceram horas. Bart e Nicola seguiam bem a minha frente, a moto deles eram trails e bem mais leve que a V-Strom, por isso seguiam mais rápido agora. Eles demoraram para perceber que eu tinha ficado para trás. Os primeiros que param foi um pessoal de um micro ônibus que vinha no sentido oposto. Foi uma raridade e muita sorte minha, pois as vezes passávamos horas sem cruzar com ninguém na Ruta, pouco depois chegaram os dois parceiros, eles levantaram a moto e assim que liberei o pé senti um alivio pois a posição que cai estava forçando uma torção em toda a perna direita que me imobilizou. Liberado, me arrastei para a beira da estrada vendo estrelinhas de dor. Deixei o povo tentando colocar a moto em pé, o que não é fácil, pois ela carregada beira os 300 kg. Primeiro me certifiquei de que não tinha quebrado nada, e então tentei ficar de pé, a dor no joelho e tornozelo direito estava forte, assim como na mão direita também. Só então passado uma meia hora, tomei coragem e fui ver o estrago na moto, por sorte não foi muita coisa graças ao protetor lateral do motor que mais uma vez salvou o dia. Alguns arranhões feios na frente e no protetor de mão, o pisca quebrado e o guidão e o retrovisor tortos foi o que notei de cara. O que estava batendo debaixo da moto era o cavalete central, que estava muito baixo e pegava constantemente nas pedras maiores da estrada. Isso ocorreu tantas vezes que a mola que prendia o cavalete voou longe e ele ficou pendurado batendo e fazendo a barulheira toda.

Com a ajuda do Bart coloquei o guidão e o retrovisor mais ou menos no lugar para poder tocar viagem, nesse meio tempo chegou um senhor com uma moto toda estropiada também devido a um tombo que levou no Rípio dias antes. O nome da figura é Ricardo Wrontiac, Argentino ele é professor aposentado, tem 68 anos e anda numa Java, uma moto com motor carburado, de 350 cc com um tanque gigante, 27 litros, com peças Chinesas e Indianas montada na Argentina. Ele havia caído 4 dias antes más seu tombo parece ter sido bem mais feio que o meu, tão feio que Ricardo esteve internado num hospital em observação em El Calafate por um par de dias. Pelo que ele contou caiu também devido aos pedregulhos gigantes desse trecho da Ruta 40. Realmente foi um erro pegar essa estrada com a V-Strom, especialmente sobrecarregado como eu estava!

Depois de tomar um gole de água, tomar um bom fôlego do susto e amarrar o tripé pendurado, decidi tentar seguir viagem. Além disso sobravam poucas alternativas, ficar sentado na beira da Ruta quase deserta reclamando da vida não ia resolver nada. O Ricardo veio com a gente então, e seguimos mais uns 20 km e o Rípio finalmente acabou, e logo em seguida tinha também um pequeno povoado com um posto de gasolina e um bar, paramos ali para abastecer e avaliar as possibilidades. Logo mais a diante o Bart e o Nicolas iam separar-se de mim, pois seguiriam para o Chile para a Carretera Austral e eu ia para Bariloche uns 900 km a diante. Eles ofereceram mudar os planos e seguir comigo até o Rípio acabar, eu fiquei agradecido e bastante tentado a aceitar a oferta, mais achei chato atrapalhar a Trip dos caras, de qualquer forma insistiram muito e acompanharam até a próxima cidade, Perito Moreno que ficava 100 km adiante sendo de desses 60 tambem eram de Rípio, e 40 de asfalto. Confesso que fiquei muito grato e aliviado pela companhia deles, viajar sozinho até o fim do dia ainda mais numa estrada ruim não é uma coisa que me deixava muito tranqüilo.

Chegamos em Perito Moreno umas 5 da tarde, fomos então para uma farmácia comprar um remédio para as minhas dores. Consegui também achar um locutório e dar uma ligada em casa, falei com meu pai más não contei do tombo. Conseguimos achar um camping até bem legal, lá montamos as barracas e passamos a noite ali, o remédio que me deram não fez muito efeito pois a dor durante a noite foi muito forte e tornou o sono bem ruim.

Dia 12 já amanheci com bastante dor, más resolvi tocar viagem, combinei com Nicolas e Bart que nos separaríamos ali e eu seguiria com o Ricardo, pelos últimos 50 km de Rípio que restavam até finalmente pegar novamente o asfalto direto até Bariloche. Despedi então dos dois parceiros de vários dias de Rutas com dor no coração mais uma vez, é chato conhecer, fazer amizade e depois dizer adeus, muito provavelmente para sempre. Apesar de todos os percalços os meninos eram bem legais!

Passei de novo na farmácia e comprei um nebuprofem mais forte de 800 mg, que então aliviou um pouco a dor, e toquei viagem com o Ricardo. O Rípio por incrível que pareça, conseguiu ficar pior... rss Nesse ultimo trecho, amarguei quase 3 horas para fazer os últimos 70 Km de terra, muita pedra solta, muito vento e um sobe e desce cheio de curvas sem que não acabava mais. Acabamos chegando em outro povoadinho, e ali o Ricardo abriu o bico, decidiu ficar por ali, pois também estava sentindo dores e estava exausto, eu já tava muito atrasado e não podia me dar ao luxo de descansar muito, então abasteci novamente a moto e segui viagem. O asfalto não estava muito legal também e a estrada estava deserta. Fui tocando bem na manha para não ter problemas. Pegando a Ruta por uma hora mais ou menos, encontrei uma turma de motociclistas parados na beira da estrada. Todos com motos BMWs novinhas, eram 9 caras com duas caminhonetes de apoio. Parei para conversar com eles um pouco, e descobri que as motos são todas de um senhor chileno que estava no grupo de guia, ele as alugava para viagens pela America do Sul inteira, normalmente para americanos e Europeus como era o caso dessa vez. A turma era bem animada, cumprimentei todos e conversando com eles e me disseram que estavam esperando outro grupo que estava para trás um pouco atrasado. O senhor chileno chefe da turma, me falou que o próximo posto de gasolina estava a 100 km, ele errou feio pois na verdade estava à 170. Tive de usar a gasolina que trazia em 2 garrafas pet de 2 litros e mesmo assim cheguei com o tanque quase vazio. Depois desse papo toquei então e depois de um tempo, umas duas horas, cruzei com as outras 6 BMWs desgarradas do grupo, seguindo em sentido contrario. Quando se passaram os 100 km do ponto que encontrei o primeiro grupo comecei a ficar bem preocupado, pois minha gasolina ficava baixa devido ao aumento de consumo pelo vento de frente que eu estava pegando. Quando começou a piscar a luz da reserva entrei em Governador Costa, não era uma cidade muito pequena más la também não se aceitavam pagamento com cartão de crédito nos postos de gasolina, também não havia dinheiro nas maquinas dos bancos, aqui chamadas “Cacheros”. O dinheiro em espécie também estava em falta devido ao grande fluxo de turistas que a Argentina estava recebendo. Eles haviam até mandado imprimir notas de pesos no Brasil por conta disso!

Abasteci, tomei mais um comprimido para dor, descansei mais um pouco e segui, o tempo foi mudando rápido então, e esfriando bastante, depois de mais uns 200 km, cheguei em Esquel debaixo de um toró gelado. A cidade é muito bonita e senti não poder passar mais um dia lá para passear. Decidi então pegar um Hostel e dar um descanso da barraca, eu precisava dormir numa cama, em um lugar seco e com banheiro limpo, isso ajudou a levantar o meu moral e me restabelecer melhor.

No dia 13 o tempo não melhorou, más resolvi seguir viagem mesmo assim para tentar chegar a El Bolson, onde me disseram que haviam coisas muito legais para conhecer. Depois de uns 200km de chuva e bastante frio cheguei lá. El Bolson, é cidade turística e estava tudo lotado. Fui ao centro de informação de turistas e lá já me desanimara de achar acomodação. Mesmo assim resolvi procurar, rodando por todos os hosteis e hotéis que consegui ver, descobri que não tinha mais nenhuma cama ou quarto vagos baratos. Haviam sim alguns poucos os hotéis com disponibilidade más eram muito caros e eu ainda não estava preparado para montar a barraca novamente, sendo assim, mais uma vez resolvi tocar o bonde e tentar então chegar até Bariloche. Não teve jeito, não consegui, andei uns 100 km e tive de parar num lugar que era um restaurante/pensão de beira de estrada, devido a chuva forte e ao frio, eu já estava congelando de frio e sentindo que ia ficar gripado. Todo molhado apesar de estar usando a capa de chuva resolvi ariscar e ficar por ali. Foi a decisão mais correta dessa viagem até o momento! Foi uma surpresa muito boa parar ali, não havia muito movimento no lugar e o pernoite em um quarto só para mim saiu 80 pesos, mais 30 pesos por jantar que tinha cerveja gelada, bife, pão de alho, batata e torta frita. Eu tava precisando muito dessa caloria toda. Alem de tudo isso a moça que atendia por lá, compadecida do meu estado precário se ofereceu para secar a minha roupa, foi uma maravilha. Minha calça de viagem não secava direito há muito tempo devido ou ao suor ou a chuva que eu tomava diariamente (imagina o cheiro que não tava também....).

Bom no dia seguinte o clima não mudou nada, então aproveitei para dormir até mais tarde e descansar o esqueleto. Faltava pouco para chegar a Bariloche e decidi já que ia ficar lá alguns dias para conhecer e passear. Sai por volta de 2 da tarde, quando a chuva deu uma trégua, só que andei um pouco e começou a cair água novamente. Cheguei em Bariloche e fui procurar o escritório de turismo para saber onde havia hosteis com lugares disponíveis. Me indicaram um, e fui para lá, dei sorte mais uma vez, pois tinha apenas uma cama sobrando, o lugar é muito bom limpo e organizado, chama-se "Hostel San Antonio" e é tocado por um casal novinho, o Tika e a Marcela, os dois Argentinos e muito gente boa. Infelizmente só não dei sorte com os companheiros de quarto, eram 5 caras israelenses sujos e mal educados. Os pilantras faziam a maior zona a noite no quarto e alem disso causaram confusão com outras pessoas do Hostel por fumar roubar comida da geladeira. Não gosto de generalizar, más percebi que os israelenses, quando viajam em grupos sempre causam confusão. O mesmo se passou em Ushuaia, em El Calafate, El Chalten e aqui agora. Infelizmente tive até de ir comprar uns cadeados para trancar minhas coisas, e isso não se fez necessário até agora na viagem depois de quase 30 dias. Sendo assim é difícil não se criar uma má impressão deles.

Resolvi ficar em Bariloche até dia 19. Infelizmente em função da chuva, do frio, do desgaste físico e principalmente da falta de grana que andava curta, não fiz muita coisa e deixei de visitar muita coisa bacana. Uma pena pois aqui as opções são muitas mesmo. O Tika, dono do Hostel, é guia turistico e também anda de moto. Ele deu altas dicas de lugares para que eu conhece-se!

Basicamente fui a lugares onde não se precisava pagar para entra, más nem por isso deixei de conhecer paisagens muito interessantes. A liberdade de estar de moto é uma coisa muito boa, deixei a bagagem no Hostel e por dois dias circulei pelas montanhas, parques, estações de esqui de Bariloche e pela cidade, que em si só já é também uma linda atração mesmo no verão! A cabei encontrando na cidade onde fui comprar umas camisetas e lembracinhas, um grupo de motociclista brasileiros na rua. Todos eles, uns 8 no total, com camisetas e roupas de moto e falando português alto, o que tornou fácil identificá-los. Fui conversar com eles, estavam seguindo no sentido contrário, seguiam sul e eu ia para o norte. Fomos a um café e tomei umas cervejas com alguns deles e então fui para o Hostel, descansar e me preparar para atravessar para o Chile.

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